Com um extenso currículo na área de estudos sobre o rádio, o atual vice-diretor da Faculdade de Comunicação fala do cenário radiofônico na Bahia e sobre os desafios da Rádio Facom, que é coordenada por ele. “A rádio poderia não existir, ela existe por insistência minha”. Confira a entrevista dada por Maurício ao Facom News.
De onde veio o seu interesse por rádio?
Na época em que fiz graduação em Fortaleza, eu estagiei em rádio e TV, quando o estágio era obrigatório. Quando acabei a graduação, fiz cursos de especialização em rádio e teleradiojornalismo. A partir daí, eu comecei a dar aulas de rádio como professor substituto na Universidade Federal da Paraíba e logo depois fui dar aulas em Vitória. Minha ligação é quase toda acadêmica.
Você já trabalhou em quais rádios?
Nunca trabalhei em rádio, eu estagiei na rádio Iracema, em Fortaleza, e na rádio Espírito Santo, em Vitória, além de criar uma rádio na Universidade Federal do Espírito Santo. Fiz muitos cursos na área de rádio, sou mais um pesquisador de rádio do que um radialista.
Quais são os desafios do radiojornalismo na atualidade?
Na verdade, não gosto da expressão radiojornalismo. Eu gosto muito da idéia de áudio, porque com a convergência de mídias, hoje em dia aprender a trabalhar com sons, com áudio, não é só pra trabalhar no rádio convencional. Mas os maiores desafios das emissoras comerciais são o de concorrer com a TV e com a Internet, de se manter sempre atualizada, sempre à frente das outras mídias.
Qual o atrativo que o rádio possui que os outros meios de comunicação não possuem?
O atrativo do rádio é um velho atrativo. O som, as palavras, a voz, eles têm um espécie de fascínio, uma espécie de mobilidade que o uso da imagem ainda não tem. O rádio atrai as pessoas que gostam de trabalhar com a voz, com sons, já que o rádio trabalha com um único sentido, a audição. Além disso, o rádio trabalha muito com a imaginação, é como ler.
Como você classifica o cenário do rádio na Bahia?
Tem melhorado bastante, principalmente com a chegada da Band News, que imprimiu pela primeira vez um jornalismo profissional aqui no mercado. Ao menos nessa parte jornalística melhorou bastante.
A que você atribui as altas audiências de programas populares com conteúdos menos elaborados nas rádios de salvador?
Isso não é um fenômeno só de Salvador, é um fenômeno mundial. No lugar de tentar ampliar o repertório do público, eles focam no que as pessoas gostam, independente de ser certo ou errado. Eles exploram o gosto pelo sensacionalismo, pelas notícias de crime, porque essas pessoas são excluídas dos jornais da classe média, e no rádio popular elas acabam sendo contempladas de alguma forma. Eles refletem de uma maneira bizarra e também aproveitadora o universo que essas pessoas moram. No rádio ou você ouve programas populares que atendem a grandes públicos ou programas de pseudo qualidade que não atendem ninguém. O ideal seria atingir grandes públicos com qualidade, o que é muito difícil de ser conseguido.
Então você acha que é mais uma identificação do público com o conteúdo desses programas?
Sim, claro. Esse programas utilizam certo conhecimento do meio e exploram exatamente as características que pessoas mais criticas considerariam negativas. Mas as pessoas não estão nem um pouco interessadas nisso, estão interessadas em atingir da maneira mais fácil possível o público.
Mais uma manutenção do que já existe.
Sim, um reflexo do que já existe. Não só o reflexo, como uma hipertrofia do que já existe. E o dramático, o exagerado para eles é fundamental.
Você acha que se houvesse uma iniciativa de desenvolver programas mais elaborados para o grande público, isso não existiria?
Muito difícil. Eu acho que não existem programas bem elaborados nem pra classe média. O rádio hoje em dia vive de programas muito pouco elaborados.
No seu ponto de vista, qual a importância de utilizar a Rádio Facom como atividade que aproxima o aluno do mercado?
Eu acho importante que os alunos aqui possam treinar, fazer a rádio como laboratório, já que lá fora vão ter que seguir um modelo. A função da faculdade é ser uma incentivadora dessas novas formas de produzir rádio no mercado.
Qual a importância da Rádio Facom no contexto da Facom?
A Rádio Facom é importante porque os alunos precisam executar de alguma maneira as suas habilidades de falar, de produzir pra rádio. Mas os alunos usam muito pouco isso. A rádio poderia não existir, existe por insistência minha. Poderia existir somente o laboratório de rádio, como existe o de Tv, mas com o funcionamento da rádio os alunos têm a possibilidade de falar para um público que não se resume ao da disciplina.
E quais são as maiores dificuldades enfrentadas pela Rádio Facom?
A maior dificuldade da rádio é que ela vive de voluntários, ela não tem pessoas trabalhando. Agora que temos uma funcionária que trabalha de manhã “emprestado”, mas não possui um técnico permanente. Ela vive da boa vontade dos alunos que não recebem bolsa. A rádio deveria possuir funcionários permanentes pra trabalhar.
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