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"Pelo menos aqueles que a gente pode chamar de fãs vêem mais novelas com o uso das novas tecnologias"

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010



Maria Carmem Jacob
 
“Eu diria que, como boa parte do público de novela ainda não tem acesso à internet com regularidade, é difícil avaliar, mas pelo que sei até agora ela tem sido facilitadora”, diz a mineira Maria Carmem Jacob, pesquisadora em teledramaturgia e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da UFBA. Com o uso de outras mídias no processo produtivo da televisão brasileira, acirrou-se o debate sobre até que ponto a televisão perderá seu espaço. Questões como essa, além do preconceito quanto ao estudo televisivo na Academia foram discutidas nesta entrevista.

Facom News: O que despertou o seu interesse para começar a estudar acerca da teledramaturgia? Quando você começou a estudar?

Maria Carmem Jacob: Quando eu entrei pra dar aula na Escola de Serviço Social da CRJ, isso no final dos anos 80, queria muito trabalhar em pesquisa e a que estava sendo desenvolvida na época era “A representação da pobreza em telejornais e novelas no Rio de Janeiro”. Quem coordenava era Marilena Jamur. Eu me apresentei à Marilena e ela falou: Você quer coordenar o grupo de pesquisa sobre telenovela? E eu falei: Quero! E aí comecei a trabalhar com esse tema. Até então não era imaginado por mim trabalhar nessa área. E gostei. Porque eu gosto mesmo é de pesquisa, independente do tema com o qual eu esteja trabalhando. E não quer dizer que eu adore novela. Gosto de novela, gosto de televisão, mas poderia trabalhar com outras coisas. Então eu comecei a trabalhar e a estudar teledramaturgia, foi um trabalho de encomenda que na verdade seria trabalhar com pesquisa. Depois eu continuei me interessando, foi o tema do meu Doutorado, e meu tema de trabalho até hoje.
     
FN: Qual a sua opinião sobre a visão que os demais acadêmicos de comunicação possuem sobre a televisão brasileira, mais especificamente no que diz respeito a área na qual você é especializada? Já houve algum tipo de preconceito por parte deles? Se sim,nos conte como foi.
MCJ: Há uma discussão grande sobre o lugar da televisão no reconhecimento dos pesquisadores no campo científico. Tem o livro do Arlindo Machado, escrito no final dos anos 2000, que tematiza bem esse pouco cuidado que se tem na análise da experiência de televisão e às vezes com preconceito. Principalmente com produtos voltados para o grande público, independente de ser ficção ou não. Também tem um texto do Martín-Barbero que fala do mau olhado em relação a televisão. Analisava-se a televisão com uma preocupação muito grande em perceber de que maneira ela poderia ter fins educativos ou de que maneira ela estaria criando dificuldades na formação moral, política e na experiência cultural brasileira ou de qualquer lugar do mundo. Isso mudou hoje em dia. Hoje, esse preconceito é muito menor e há uma preocupação de entender como funciona economicamente o sistema de produção e distribuição televisivo, análise de conteúdo, análise da poética do modo de fazer os programas e, sem dúvida, o Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea aqui da faculdade favoreceu muito isso.

FN: Você nota grande interesse por parte dos alunos de graduação na matéria que você ministra aqui na UFBA?

MCJ: Desde que estou na Ufba, há 10 anos, têm um conjunto de pessoas que ficam satisfeitas em saber que podem estudar televisão. Eu diria que a aceitação costuma ser muito grande e o interesse tem aumentado. Não só porque existem professores aqui que trabalham com isso, mas cada vez mais as gerações que estão estudando Comunicação foram gerações criadas pela televisão. Ficção e televisão melhoraram muito nos últimos anos, então, tem-se hoje um critério de avaliação positivo dos programas de ficção de televisão. Aumentou também o interesse do campo científico em estudar programas voltados para o grande público, inclusive aqui na Facom onde muitas pessoas são consumidoras de televisão diária e de programas da mais diversas naturezas.

FN: Com o advento da internet, muitas pessoas deixaram de assistir televisão. Alguns radicais dizem que na atualidade, a internet está tomando o lugar antes ocupado por ela. Qual sua a visão a respeito? Com relação às telenovelas, os brasileiros estão deixando de assistí-las por conta da internet ou por algum outro motivo?

MCJ: Quais são as implicações do uso de outras mídias pra audiência de telenovela? Eu diria que é difícil de dizer ainda. O que eu observo é que pelo menos aqueles que a gente pode chamar de fãs, que acompanham, que veem mais de uma vez, participam em sites, blogs, etc, veem mais novelas com o uso das novas tecnologias. Eu diria que como boa parte do público de novela ainda não tem acesso à internet com regularidade é difícil avaliar, mas pelo que eu sei até agora ela tem sido facilitadora. As pessoas podem ver em outros horários, podem ver mais de uma vez e as redes de relações tem ampliado a partir daqueles que se interessam por novelas. Eu acho que tende a aumentar e não a diminuir [o consumo de telenovelas], as pessoas mudam de canal porque não gostavam antes da novela, não é porque gostavam de novelas e com a internet vão deixar de gostar.

FN: Por que as telenovelas estão cada vez mais se inserindo no contexto da realidade?

MCJ: Elas querem corresponder melhor ao desejo do telespectador de poder emocionalmente se sentir ali, naquela história ou tendo informações sobre o mundo que o rodeia. E isso é muito antigo. No início da experiência de teledramaturgia já tínhamos isso, não acontecia na maioria dos programas, mas já tratavam da realidade do espectador da época. Então faz parte um pouco desse tipo de narrativa que se aproxima ao máximo que ela pode de uma realidade emocional, social e cultural do telespectador, como se fosse uma estratégia para garantir a ampliação e a permanência da audiência. E quando eu digo “emocional” e imaginativo, é porque você pode ter uma novela que fale de vampiros, mas ela tem que falar de vampiros para que os jovens e os adultos que estejam assistindo sintam algum tipo de identificação.


FN: A tendência de grandes emissoras em investir em “reality shows” prova que as telenovelas não estão dando conta da audiência?

MCJ: Existe uma tendência de grandes emissoras de investir em “reality shows” ? Não sei responder exatamente essa pergunta. Será que as telenovelas não estão dando conta dessa audiência? Também não sei. Houve uma tendência de diversificação dos programas de televisão. E os “reality shows” apareceram e estão atraindo um grande número de espectadores, mas eu não associaria uma coisa a outra. As novelas e os “reality” se associam, inclusive há um estilo de trazer a realidade pra novela, que cada vez mais têm sido desenvolvido, que mostra que o telespectador em geral gosta de ver sua vida na televisão.


Por Gabriela Cirqueira, Jéssica Sousa, Joana Oliveira e Thuanne Silva

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